Evangelho segundo Lucas
Capítulo 5
Versículo 17: Num outro dia, quando Jesus ministrava, estavam sentados ali fariseus e professores da Lei, vindos de todos os povoados da Galileia, da Judeia e de Jerusalém; e Ele tinha o poder de Deus para realizar curas.
Os fariseus eram mestres da Lei muito respeitados nas sinagogas (lugar de reuniões e/ou templo judaico). Formavam uma confraria e um partido político com mais de 6.000 membros. Eles se auto-denominavam "guardiões da Lei", e pregavam que suas tradições e interpretações teológicas eram tão importantes quanto o que estava escrito nas Escrituras Sagradas. Tinham um zelo excessivo pelo cumprimento das regras, não demonstrando igual empenho no cumprimento da vontade de Deus.
Os escribas eram pessoas hábeis na arte da escrita (poucas pessoas sabiam escrever naquela época, e os que sabiam gozavam de grande prestígio). Eram os responsáveis pelo estudo, interpretação e ensino da Lei e das tradições judaicas. A maioria era do partido dos fariseus, mas alguns pertenciam ao partido aristocrático dos saduceus.
Os líderes religiosos passavam grande parte do tempo discutindo suas tradições religiosas. Estavam tão preocupados em servirem às tradições que se distanciavam do sentido das Escrituras.
Vemos esses grupos religiosos se deslocando até a cidade de Cafarnaum para analisarem os ensinamentos de Jesus e vigiarem os Seus movimentos. Faziam isso porque Jesus contrariava suas crenças e costumes, pois estava mais preocupado em ensinar sobre Deus do que em cumprir regras que foram criadas pelos homens.
Versículo 18: Chegaram, então, uns homens trazendo um paralítico numa maca e tentaram fazê-lo entrar na casa, a fim de apresentá-lo perante Jesus.
Versículo 19: Não tendo sucesso nessa tentativa, devido à grande multidão aglomerada, subiram ao terraço e o baixaram em sua maca, através de uma abertura no teto, até o meio da multidão, bem adiante de Jesus.
Naquela época, as casas eram construídas com pedras, e os telhados planos eram feitos de barro misturado com palha. Uma escada, do lado de fora, levava até o teto.
Os amigos do paralítico o levaram, por fora da casa, até o telhado, tiraram uma parte da cobertura e fizeram com que ele chegasse até onde Jesus estava.
Versículo 20: Observando a fé que aqueles homens demonstravam, Jesus declarou: "Homem! Os teus pecados estão perdoados."
Jesus deixa claro a conexão entre "pecado" e "punição".
Pecado: violação de um preceito (norma) religioso. Se ampliarmos o conceito, o pecado não consiste em contrariar uma regra específica de uma determinada religião, mas em violarmos a lei de Deus.
Punição: qualquer forma de castigo que se impõe a alguém por uma falta cometida.
Segundo o conceito espírita, a ideia de pecado e punição precisa ser ampliada, sendo compreendida não como algo arbitrário, mas sim como uma lei de causa e feito, ou seja, nossas atitudes tem consequências. Ao agirmos de maneira equivocada, arcaremos com as consequências de nossos enganos.
Jesus mostra que existe uma relação entre a paralisia que acometia aquele homem e os enganos por ele cometidos, e diz que o perdoava.
O que o Espiritismo mostra de diferente em relação a outras religiões é que a atitude equivocada pode não só ter acontecido nesta existência, mas em vidas passadas também.
Versículo 21: Diante disto, os escribas e os fariseus começaram a cogitar: "Quem é este que profere blasfêmias? Quem tem poder para perdoar pecados, a não ser somente Deus?"
Blasfêmia: enunciado ou palavra que insulta a divindade, a religião ou o que é considerado sagrado. Para os judeus, era um crime cuja punição era a morte.
Os doutores da lei acharam que Jesus estava blasfemando, pois ninguém tinha o direito de perdoar os pecados exceto Deus. Ao dizer que perdoava os pecados, Jesus estaria se igualando a Deus.
Versículo 22: Jesus, entretanto, tendo pleno discernimento do que estavam pensando, questionou-lhes: "Que censurais em vossos corações?
Versículo 23: Que é mais fácil declarar: 'Os teus pecados estão perdoados" ou 'Levanta-te e anda'?
Jesus, mesmo cercado por uma multidão, percebeu que os doutores da lei estavam discutindo sobre o que tinha acontecido, e pergunta que diferença fazia Ele dizer que perdoava os pecados daquele homem ou mandar que ele se levantasse e andasse. De qualquer maneira, o paralítico estaria curado. Tendo sido curado, isso significava que ele havia sido perdoado, pois o "pecado" era a causa de seu problema.
Podemos nos perguntar como os doutores da lei não ficaram espantados por Jesus fazer com que um paralítico andasse, um fato por si só incrível e fenomenal. Ao invés disso, ficaram discutindo sobre o que Jesus tinha falado, mostrando que não se preocupavam nem um pouco com o sofrimento do paralítico.
Versículo 24: Todavia, para que vos certifiqueis que o Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados " - dirigindo-se ao paralítico declarou - "Eu te ordeno: Levanta-te! Pega a tua maca e vai para casa."
Jesus declara ser o "Filho do homem"; Ele não diz ser o próprio Deus, mas sim o Seu filho. Diz que tem autoridade para perdoar os pecados e que Deus deu a Ele essa autoridade.
Jesus sempre se refere a Deus como sendo Seu pai. Não tem como afirmar que Jesus é Deus encarnado, pois o próprio Jesus afirma ser Seu filho.
Versículo 25: Então, naquele mesmo instante, o homem se levantou diante de todos os presentes, pegou a maca em que estivera prostrado e correu para casa louvando e bendizendo a Deus.
Versículo 26: E todos ficaram estupefatos e glorificavam a Deus; e, tomados de grande temor, exclamavam: "Hoje vimos grandes prodígios!"
Temor: sentimento de profundo respeito e obediência.
Prodígio: coisa ou fato extraordinário; maravilha, milagre.
Contra os fatos não há argumentos. As pessoas viram Jesus curar um paralítico, e por isso sentiram um profundo respeito a Deus, pois viram algo maravilhoso. Essas pessoas entenderam que a autoridade de Jesus era dada por Deus, e louvaram Aquele que tinha permitido tudo isso: Deus.
Enquanto que os doutores da Lei ficavam discutindo quem tinha dado a Jesus o poder de curar, o povo logo percebeu que algo assim só poderia vir de Deus. Assim como os fariseus daquela época, nós corremos o risco de ficar discutindo sobre religião ao invés de praticá-la. Jesus disse que toda a Lei e todos os ensinamentos dos profetas estavam resumidos em dois mandamentos: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Todo o mais é detalhe.