Evangelho segundo Lucas
Capítulo 3
Versículo 1: No décimo quinto ano do reinado de Tibério César, época em que Pôncio Pilatos foi governador da Judeia; Herodes, tetrarca da Galileia; seu irmão Filipe tetrarca de Itureia e Traconites; e Lisânias, tetrarca de Abilene, e
Nesta época descrita por Lucas (ano 25 ou 26 da era cristã), a região onde Jesus vivia estava dominada pelo império romano. Tibério César foi o imperador romano que governou de 14 a 37 d C.
A região dominada pelo império romano foi dividida em quatro regiões: duas delas governadas pelos meio-irmãos Herodes Antipas e Filipe (filhos de Herodes, que havia morrido há mais de 20 anos), por Pilatos e por Lisânias. Todos os quatro governantes tinham poderes iguais, estavam sujeitos ao controle de Roma e tinham que manter a paz em seu território.
Versículo 2: Anás e Caifás exerciam o ofício de sumo sacerdotes. Foi nesse mesmo ano que João, filho de Zacarias, recebeu uma palavra convocatória do Senhor, no deserto.
De acordo com a lei judaica, havia apenas um sumo sacerdote, descendente de Arão, que mantinha o seu cargo por toda a vida. Entretanto, o governo romano havia deposto Anás e colocado, em seu lugar, seu genro Caifás.Como o cargo de sumo sacerdote era vitalício, os judeus continuaram a considerar Anás como sumo sacerdote.
Depois de 400 anos sem um profeta, Deus convoca João Batista para ser Sua voz e anunciar a vinda do Messias.
A palavra "deserto" nem sempre se referia a uma região seca e arenosa, mas principalmente a um local desolado e desabitado.
Versículo 3: Então ele percorreu toda a região próxima ao Jordão, proclamando um batismo de arrependimento para perdão dos pecados.
João Batista foi chamado por Deus para pregar o arrependimento ao povo. O batismo de João era um ato simbólico, no qual as pessoas demonstravam publicamente sua compreensão e tristeza pelos erros e pecados cometidos, e a sincera disposição de buscar uma vida em plena harmonia com a vontade de Deus.
A missão fundamental de João era a de preparar o caminho para Jesus, sensibilizando as pessoas para o que Jesus viria ensinar.
Versículo 4: Assim como está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: "Voz do que clama no deserto: 'Preparai o caminho do Senhor, tornai retas as suas veredas.
Versículo 5: Pois que todo o vale será aterrado e todas as montanhas e colinas, niveladas. As estradas tortuosas se transformarão em retas e os caminhos acidentados serão aplanados.
Versículo 6: E todos os seres viventes contemplarão a salvação que Deus oferece.' "
Lucas, que escreveu este livro para um público gentio (não judeu), quis mostrar, citando o livro de Isaías (capítulo 40, versículos 3 a 5, e capítulo 52, versículo 10), que a salvação é para todos, e não apenas para os judeus.
Versículo 7: João repreendia as multidões que vinham para ser batizadas por ele: "Raça de víboras! Quem lhes persuadiu a fugir da ira vindoura?
Deus faz com que João fale de maneira dura a fim de que as pessoas despertassem para a realidade. Eles não seriam salvos apenas porque era um direito deles, por serem descendentes de Abraão. Suas atitudes, e não palavras, deveriam demonstrar a sua submissão à vontade de Deus.
Versículo 8: Produzi, então, frutos que demonstrem arrependimentos. E não comeceis a cogitar em vossos corações: 'Abraão é nosso pai!' Pois eu vos asseguro que destas pedras Deus pode fazer surgir filhos a Abraão.
Os frutos que demonstram arrependimento pelos erros cometidos podem ser exemplificados como:
- reconhecimento da responsabilidade pessoal e social;
- disposição para evitar o mal;
- prática espontânea de boas obras;
- partilha amorosa e voluntária dos bens pessoais com aqueles que mais necessitam;
- caráter honesto e justo em todos os relacionamentos e assuntos;
- atitude paciente em todas as situações;
- prática da verdade;
- espírito otimista e alegre mesmo em meio às grandes dificuldades da vida, compreendendo que a esperança não vem das coisas nem das pessoas, mas de Deus.
Versículo 9: O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada ao fogo."
João Batista alertava que era tempo de mudanças. Não adiantava a pessoa se arrepender mas continuar a fazer as mesmas coisas de sempre.
Posteriormente, Jesus iria criticar as pessoas que, apesar de ocuparem altos cargos religiosos, não agiam de acordo com o que pregavam.
Jesus também falaria que pelo fruto se reconheceria a árvore. Não adianta a pessoa ter um discurso muito bonito se as suas ações contradizem o que fala.
João Batista alerta as pessoas, convocando-as ao arrependimento. Mas esse arrependimento tem que promover modificações em sua vida. Esse é o fruto ao qual se refere.
Versículo 10: E as multidões lhe rogavam: "O que devemos fazer então?"
Versículo 11: Diante do que João as exortava: "Quem tiver duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma; e quem possui o que comer, da mesma maneira reparta."
Diante das duras reprimendas de João Batista, que dizia que elas não estavam agindo de maneira correta, as pessoas se preocuparam em saber o que deveriam saber. A explicação que ele dá não poderia ser mais clara!
Versículo 12: Chegaram inclusive alguns publicanos para serem batizados. E indagavam: "Mestre, como devemos proceder?"
Publicanos eram judeus que, a serviço de Roma (que dominava a Palestina naquela época) cobravam os impostos dos judeus. Devido ao fato de cobrarem mais do que era devido, embolsando grande parte do dinheiro, e representarem o governo opressor, eram mal vistos pelos judeus, sendo sinônimo de "pecadores".
Versículo 13: E João lhes respondeu: "Não deveis exigir nada além do que vos foi prescrito."
João não poderia ser mais simples e direto do que isso!
Versículo 14: Então um grupo de soldados lhe inquiriu: "E quanto a nós, o que devemos fazer?" E ele os orientou: "A ninguém molesteis com extorsões, nem denuncieis falsamente. Contentai-vos com o vosso próprio salário."
A mensagem de João exigia pelo menos três atitudes:
- partilhe o que você tem com aqueles que estão necessitados;
- qualquer que seja o seu trabalho, faça-o bem feito e com justiça;
- esteja satisfeito com o que você tem.
João Batista não veio para levar consolo àqueles que viviam de maneira incorreta. Ele convocou as pessoas a uma vida justa e santa.
Vemos que João Batista veio para alertar as pessoas, dizendo que o que elas estavam fazendo estava errado. Elas estavam acomodadas com a situação, achando que estavam agindo bem por agir de acordo com o que a Lei determinava. João veio para mostrar que a realidade era outra.